segunda-feira, 12 de abril de 2010

A IMPORTANCIA DA FAVELA NA SOCIEDADE CARIOCA DO INÍCIO DO SÉCULO XX

A abordagem sobre essas comunidades geralmente são tratadas em segundo plano, os ditos “povo” nos cortiços ou nas ruas do Rio. Sem dar a devida atenção à formação social e a importância das favelas propriamente dita na sociedade carioca do início do século XX.

Após a vinda da família Real Portuguesa para o Brasil e a abertura dos portos as nações amigas (1808), iniciou-se uma enorme explosão demográfica. Somente a transferência da corte trouxe para o Brasil cerca de 15 mil pessoas. Com a abertura dos portos, a grande atividade comercial trouxe para o Brasil grande fluxo de pessoas de todas as partes do mundo, principalmente europeus.

De 1872 a 1890 a população praticamente dobrou. Neste momento a população estrangeira representava 40% da força de trabalho no Rio de Janeiro. Além do enorme contingente de ex-escravos que após a abolição se estabeleceram na capital federal.

 
Todo esse aumento no contingente populacional aconteceu de forma desordenada. A cidade não dispunha de serviços adequados de habitação e saneamento. Apesar de todo crescimento a cidade ainda mantinha seu aspecto colonial de ruas estreitas e mal iluminadas, prédios antigos transformados em habitações coletivas, os chamados cortiços considerados o embrião das favelas, tiveram origem nesse momento. Havia muitos mendigos pelas ruas, ambulantes e a falta de saneamento favoreciam surtos de doenças pestilenciais como a febre amarela, tuberculose, varíola e a peste bubônica. O velho centro estava habitado por gente simples e humilde vivendo em péssimas condições de higiene.

Essa era a mão de obra disponível para alavancar a economia da jovem República e ao contrário do que se imaginava, havia um enorme contingente populacional de imigrantes, tanto quanto de ex-escravos.

Devido à necessidade de atrair créditos e estimular o comércio com a Europa e Estados Unidos e também de afirmar o poder da elite republicana, era urgente a modernização a capital brasileira. Então em 1902 quando assumiu o governo o cafeicultor paulista Rodrigues Alves, aproveitando da boa situação econômica do país, iniciou as obras de remodelação, saneamento e embelezamento da capital brasileira.

Para tanto nomeou alguns dos melhores engenheiros para postos chaves de sua administração: Francisco Pereira Passos para prefeitura da cidade, Lauro Severiano Müller para ministro da indústria, viação e obras públicas, Francisco de Paula Bicalho para diretor técnico da Comissão das Obras do Porto do Rio de Janeiro e Andre Gustavo Paulo de Fontim para Presidente da Comissão Construtora da Avenida Central.

A avenida Central que a partir de 1912 passou a se chamar avenida Rio Branco em homenagem ao diplomata Ministro da Relações Exteriores, o Barão de Rio Branco, falecido naquele ano, foi uma via extensa aberta bem no meio da cidade. Com 1.800m de comprimento e 33m de largura foi criada para se tornar o centro comercial e financeiro da cidade e também o símbolo da modernização da cidade.
A construção dessa via expurgou a população de baixa renda da localidade, mas sem uma infra-estrutura adequada para acomodar todas essas pessoas, elas acabaram por ocupar mais intensamente os morros ao redor do centro da cidade. Essa população foi e continuou a ser a mão de obra de movimentava a economia da cidade. Por este motivo, buscavam se instalar em locais de mais fácil acesso, visto que o sistema de transporte era precário na época.

A grande densidade demográfica, a especulação imobiliária, os interesses econômico-financeiros, além de fatores externos como os soldados que voltaram da Guerra de Canudos e foram também se instalar nesses locais a espera dos seus soldos, levaram a proliferação das favelas na cidade.

Podemos a partir daí tirar algumas conclusões:

• A população dos cortiços, casas de cômodos e posteriormente das favelas, não eram exclusivamente formada por ex-escravos e mestiços. Havia muitos estrangeiros de toda parte, mas principalmente portugueses, que inclusive eram proprietários de terrenos nesses morros e alugavam os barracos ou o “chão” para pessoas de baixa renda.

• Podemos afirmar também que a mão de obra que movia a economia da cidade estava em sua grande maioria instalada nesses morros e favelas.


 
Referencias Bibliográficas:
• CARVALHO, Jose Murilo de. Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Schwarcz, 2001.
• KOK, Gloria. Rio de Janeiro na época da Av. Central. São Paulo: Bei Comunicação, 2005.
• VALLADARES, L do Prado, A Gênese da Favela Carioca: a produção anterior às ciências sociais. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 15, n.º 44, out.2002.