Os movimentos religiosos
conhecidos como Reforma, tinham ligação direta com o desenvolvimento do comércio
e com a formação de uma nova classe social, a burguesia. Deu-se o nome de
protestantismo a todos os movimentos que nesse período romperam com a Igreja
Católica.
Causas da Reforma Protestante
O homem renascentista não era o
mesmo homem do período feudal. Agora ele se tornara o centro das atenções. Os ideais
renascentistas influenciaram muito o pensamento dessa época.
A crítica a Igreja por ter se
distanciado dos ideais da igreja primitiva de humildade e pobreza. A igreja
nessa época vivia no luxo, acumulando riquezas com a venda de relíquias tidas
como sagradas e a cobrança de altos impostos dos camponeses.
A formação das monarquias
nacionais, com um rei dominando um território nacional, aumentava o conflito
com a igreja e diminuía a autoridade dela.
A questão do lucro. A igreja católica
acumulava riquezas materiais através de artigos de luxo, obras de arte e
terras, mas condenava o lucro como pecaminoso e os juros como roubo. Ora, a burguesia
que buscava crescer acumulava sua riqueza exatamente no lucro e nos juros dos
empréstimos. Era impossível conciliar essas posições, e as pessoas não queriam
agir contra as leis divinas.
Os pregadores calvinistas
difundiam a ideia de que aquele que ganhasse dinheiro legalmente e o acumulasse
estava, na verdade, agindo segundo so caminhos de Deus.
O fator terras também foi
importante. A igreja era uma das maiores detentoras de terra e os nobres viam
nos movimentos de reforma uma oportunidade de se apropriarem dela.
O início na Alemanha
Enquanto a França, Portugal,
Espanha e Inglaterra eram países unificados, com um rei no poder, a Alemanha
não existia enquanto nação. Isso significa que não havia um poder central.
Havia um imperador que exercia uma teórica autoridade, com pouquíssima força
pública. Na verdade o poder estava distribuído sobre os pequenos estados
dominados por príncipes, nobres e membros do alto clero.
A igreja católica representava tudo
o que estava ligado às práticas feudais. Os impostos que a igreja mandava para
Roma enfraqueciam ainda mais o poder do imperador. Ao mesmo tempo, a burguesia
alemã, via a igreja como um sério obstáculo a suas atividades. Pois a igreja era
a maior detentora de terras da Alemanha. Os camponeses também tinham motivos
para discordar dos rumos da igreja católica, porque os impostos feudais
cobrados eram muito pesados e exigiam duras jornadas de trabalho.
Foi neste contexto que surgiu a
reforma protestante.
Lutero e as 95 teses contra o papado
Martinho Lutero era um monge
agostiniano, bastante místico, que vivia na Saxonia, sob a proteção do príncipe
Frederico. Ao entrar em contato com a ideias de humanistas como Erasmo de
Roterdam e os escritos de Santo Agostinho e São Paulo, Lutero concluiu que de
nada valiam os jejuns, as peregrinações e as boas ações em favor da Igreja ou a
ajuda dos padres e santos para obter a graça divina; apenas a fé conseguiria
salvar os homens.
Sua descrença na igreja aumentou
muito no ano de 1517, quando o papa encarregou um padre de arrecadar dinheiro
na Alemanha com a venda de indulgencias. Em outubro de 1517 afixou a porta da
catedral onde era pregador as 95 proposições contra o papado. Passou então a
ser perseguido pela Igreja e por isso recebeu maior proteção do príncipe da
Saxonia. Durante o período em quem esteve foragido no castelo do príncipe,
Lutero formulou as ideias básicas que deram origem a Reforma. Negava que a
salvação do homem dependesse de obras materiais. Lutero achava que a única coisa
capaz de salvar o homem do pecado era a fé. O homem não precisaria de intermediário
para entrar em contato com Deus e o clero podia ser dispensado.
A ideia do livre exame era uma
das mais importantes inovações de Lutero; todo homem poderia interpretar a Bíblia
segundo sua própria consciência.
Os nobres alemães ficaram muito
satisfeitos quando Lutero condenou a Igreja Catolica, pois isso lhes daria uma justificativa
religiosa para tomar as terras do clero. Mas parte da nobreza, ligada a Igreja
por interesses, reagiu aos bandos armados que investiam contra as terras eclesiásticas
e as lutas se estenderam de 1522 a 1523. A Igreja conseguiu manter parte de
seus feudos, castelos e bispados. Após a revolta da nobreza, o Sacro Império
foi varrido por uma rebelião bem mais violenta, a guerra dos camponeses. O líder
dessa rebelião foi Tomas Munzer, que pregava a reforma agrária e a igualdade
social.
Em vez de apoiar a rebelião camponesa,
Lutero condenou-a e propôs aos nobres protestantes e católicos uma união para
esmagar o inimigo comum, que era os camponeses. Em maio de 1525, a rebelião foi
esmagada: mais de cem mil camponeses foram mortos, inclusive Munzer. Mas suas
pregações originaram a seita protestante dos anabatistas (quacker).
Dominada a revolta camponesa, os
protestantes se reorganizaram para lutar contra o imperador, que na época era
Carlos V, da poderosa família dos Habsburgos, senhor também da Espanha, Paises
Baixos e parte da Italia. Os príncipes protestantes formaram em 1531 uma
poderosa aliança militar para lutar contra as forças do imperador. A luta só
terminou com a assinatura da Paz de Augsburgo, em 1555, que dava o direito de
cada príncipe impor a sua própria religião em seu território, o que equivalia a
uma derrota do imperador.
Da Alemanha o movimento luterano
alcançou a região da Suecia e Noruega, dominadas então pela Dinamarca. Em 1523,
a Suecia rebelou-se contra o domínio dinamarquês sob a liderança de Gustavo,
que foi coroado primeiro rei da Suecia. Gustavo converteu-se ao luteranismo e
apossou-se dos bens da igreja. O catolicismo praticante desapareceu do pais.
O Calvinismo
João Calvino era um estudioso de
leis, formado pela universidade de Paris. Impregnado pelas ideias humanistas,
aderiu ao movimento de reforma. Mas Paris , iniciaou uma intensa perseguição
aos que se mostravam simpáticos aos ideais de Lutero. Calvino foi perseguido e por
essa razão, foi obrigado a fugir para Genebra, na Suíça.
Foi lá que definiu seus conceitos
religiosos e os publicou em 1536, sob o título de Instituições da Religião
Cristã.
Seus ideais foram aceitos com
facilidade pelos burgueses de Genebra e em pouco tempo a cidade caiu no poder
de Calvino, que a governou com mão de ferro até a sua morte.
Todas as suas leis eram
formuladas por uma congregação do clero e a moral pública e particular eram
rigidamente controlada. Os divertimentos eram praticamente proibidos, só o
trabalho era importante. Estes ideais eram perfeitos para uma classe que
objetivava o acúmulo de riquezas.
O calvinismo difundiu-se por
várias regiões da Europa, principalmente na Escócia, onde recebeu o nome de
presbiterianismo. Na França, o calvinismo foi duramente perseguido.
A Reforma na Inglaterra: o Anglicanismo
Na Inglaterra quem dominava era a
dinastia Tudor. Henrique VIII pretendia continuar a política de centralização de
seu pai, mas encontrava na nobreza e principalmente na igreja católica um
grande obstáculo.
Inicialmente Henrique VIII
condenava o movimento reformista, mas em 1533 pediu a anulação de seu casamento,
que foi negado pelo papa. Ele aproveitou o pretexto para romper com a igreja. O
Parlamento inglês apoiou sua atitude e aprovou em 1534 o Ato de Supremacia que
mantinha a igreja sob autoridade do rei. Nascia dessa forma, uma igreja
nacional, independente de Roma, a Igreja Anglicana.
A Igreja Anglicana era igual a
Católica, só que não reconhecia a autoridade do papa. Como nem católicos e nem
protestantes concordavam com essa situação, o rei passou a perseguir os dois. A
confusão só foi controlada, quando a rainha Isabel I subiu ao trono e
oficializou o anglicanismo inglês como religião oficial em 1558.
Contra-Reforma ou Reforma Católica
A igreja católica estava bastante
enfraquecida então os papas resolveram reagir a situação e impedir que a
reforma protestante se expandisse ainda mais. Essa reação ficou conhecida como
Contra-Reforma ou Reforma Católica.
Uma das primeiras ações da igreja
católica foi restaurar o poder do antigo tribunal da Santa Inquisição, que
julgava todos os que difundiam novas ideias religiosas, isto é, o protestantismo.
Além o Tribunal do Santo Ofício,
como era conhecido a Inquisição, a igreja criou o Inex Librorum Proibitorum, uma lista de livros considerados
proibidos para os católicos.
O Concílio de Trento, reunido
desde 1545, formulou programas de novas
formas de combater o protestantismo. Para isso os padres deveriam estudar o
catolicismo a fundo, coisa que não ocorria anteriormente.
A igreja reforçou seu poder com
novas ordens religiosas. Uma dessas foi a Companhia de Jesus, fundada por
Inácio de Loyola em 1534. Nascia assim a ordem dos jesuítas, como ficaram
conhecidos seus integrantes.
Os jesuítas transformaram-se em
educadores dos filhos da nobreza, para mantê-los fiéis ao catolicismo. Foram
também responsáveis pela catequização dos indígenas das colônias espanholas e
portuguesas na América.
A Companhia de Jesus fortaleceu o
catolicismo dentro dos países que permaneceram fiéis à igreja católica.
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