Viu-se
que, após a Primeira Guerra, o Tratado de Versalhes (1914) impôs duras
condições aos perdedores. Rica em carvão e aço e com a maior população da
Europa, a Alemanha perdeu parte dos seus territórios para a Polônia e os novos
Estados criados no Leste Europeu. Alem disso, ficou sujeita a pagar uma pesada
indenização e sofreu serias restrições militares.
No
inicio dos anos 1920, os alemães enfrentaram uma enorme instabilidade política
e econômica. Uma inflação gigantesca e o desemprego em massa assombravam os
trabalhadores e a classe media. Apenas as empresas de exportação e os
especuladores acumulavam grandes fortunas com a desvalorização da moeda. O novo
governo conhecido como Republica de Weimar, sob a liderança do Partido
Social-Democrata – responsável pela assinatura do Tratado de Paz-, logo passou
a sofrer a oposição de parte da população.
Já
em 1919, entre tantos grupos contrários ao Tratado de Versalles, pregando o
revanchismo alemão, foi criado o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores
Alemães ou Partido Nazista ultranacionalista e anticomunista. Logo, Adolf Hitler (1889-1945), ex-combatente a Primeira
Guerra, tornou-se o principal líder do partido. Grupos armados, paramilitares,
organizaram-se para proteger suas reuniões e invadir as de seus opositores.
Surgiram, assim, as tropas de assalto na AS (camisas pardas).
Em
1923, Hitler tentou dar um Golpe de Estado e foi condenado a cinco anos de
prisão, mas cumpriu apenas oito meses. Enquanto estava detido, escreveu a
autobiografia Mein kampf (Minha luta) na qual expôs seus principais pensamentos sobre a
superioridade ariana e a necessidade de se impor as demais nações.
A
crise de 29, com o consequente corte de empréstimos externos, interrompeu o
processo de recuperação econômica da Alemanha. O aumento das falências, do
desemprego e da pobreza favoreceu a ascensão de extremistas políticos – de
direita e de esquerda – que se tornaram maioria no Parlamento. Nesse contexto,
as tropas de assalto impuseram a violência nas ruas por meio de confrontos
contra seus opositores.
Assustados
com o crescimento do comunismo empresários e latifundiários reviram a
possibilidade de apoiar Hitler para conter o caos social. Nessa conjuntura, os
nazistas receberam recursos para sua propaganda e o partido tornou-se o segundo
maior da Alemanha. Muitos alemães passaram a acreditar que a Republica de
Weimar lhes havia sido imposta pelos aliados.
O
Terceiro Reich
Em
1933, exercendo forte pressão sobre o presidente Hindenburg, Hitler, mesmo
derrotado nas eleições do ano anterior, foi nomeado chanceler e propôs a construção do Terceiro Reich (Terceiro Império Alemão).
Um
incêndio no Reichstag (Parlamento)
foi atribuído a uma conspiração comunista. Os parlamentares conferiram plenos
poderes a Hitler. Os partidos políticos foram dissolvidos e as liberdades,
suprimidas, restando apenas o Partido Nazista.
No
ano seguinte com a morte de Hindenburg, Hitler incorporou a função de
presidente e tornou-se o Führer (líder)
do povo alemão. A AS invadiu e fechou sindicatos. No lugar destes, foi criada a
Frente dos Trabalhadores Alemães, uma associação compulsória em que eles não
tinham voz ativa. Foi fundada, também, a Gestapo,
policia secreta nazista. Suas ações geraram um período de intimidação e
violência. Surgiram os primeiros campos
de concentração, para onde os opositores do regime foram enviados. As SS
(fardas pretas), corpo paramilitar de elite, ganharam ainda mais poderes.
Em
1935, Adolf Hitler, contrariando o estabelecido em Versalhes, impôs o
alistamento obrigatório e deu inicio á construção da marinha militar e á
criação de uma força aérea. No ano seguinte, remilitarizou a Renânia,
instalando fábricas de armamentos e acelerando o rearmamento alemão.
Com
o salto na indústria bélica e o surgimento de uma economia de guerra, houve uma
rápida recuperação econômica do país. Foram construídas estradas e grandes
obras públicas e, com elas, o desemprego diminuiu. Ao mesmo tempo, o nazismo
era introduzido nas escolas, nas universidades, nos tribunais, na arte, na
cultura e na indústria.
Para
muitos alemães, Hitler tirou o país da falência, tornando-o, novamente, a nação
mais poderosa da Europa continental. Com a oposição praticamente eliminada, o Führer
passou a ser venerado por milhões de alemães e admirado e imitado, até mesmo,
externamente.
Um
Estado Totalitário
O
programa do Partido Nazista trazia 25 princípios e proposições para se chegar á
constituição de uma “Grande Alemanha”. Algumas propostas de esquerda, como a
reforma agrária, a participação dos empregos nos lucros e a nacionalização dos
trustes estavam presentes. Entretanto, tais metas foram abandonadas quando os
nazistas assumiram o poder.
O
amplo projeto de controle social, guerra e racismo estavam explicito desde o
inicio da pregação nazista: o antissemitismo; o sufocamento do movimento
operário, com a aniquilação do bolchevismo; e a reivindicação do espaço vital,
com o impulso para o leste e a conquista da hegemonia sobre a Europa
continental.
A
adesão de parte da população a tal projeto, no qual a intolerância era levada
ao extremo, é, ainda hoje, objeto de debates e controvérsias. Muitos autores
consideram que a propaganda nazista foi plantada em terreno fértil, manipulando
desejos, preconceitos e ódios, já existentes entre a população. Outros dão mais
ênfase à situação econômica e social da Alemanha e á violenta repressão, isto
é, não tratam apenas do poder de cooptação da propaganda, direta ou
dissimulada, e do compartilhamento de ideologia do Terceiro Reich.
Sob
a liderança de Josef Goebbels (1897-1945), uma concepção da propaganda como arma psicológica capaz
de atingir a emoção das massas elevou as técnicas de persuasão política a
patamares desconhecidos até então. O uso de pouquíssimas máximas, repetidas
incessantemente por diversos meios, inclusive cinema e o radio, consolidou-se
como uma maneira de destruir os inimigos e formar o “novo homem” nazista.
A
arte, a literatura, a arquitetura, enfim, todos os aspectos da cultura foram
minuciosamente pensados como forma de propaganda do regime. Isso incluía também
um forte investimento da educação, ou seja, na modelagem e formação de caráter
das gerações mais jovens. Manuais escolares e professores eram preparados para
reproduzir a ideologia nazista. Em 1936, a adesão à juventude hitlerista,
organização do partido, tornou-se obrigatória para os adolescentes. Ideais de
disciplina, sacrifício, sangue, poder, força, militarização, trabalho, esporte,
etc, eram mobilizados para criar uma imagem positiva de felicidade, ligada á
preparação de uma “raça vigorosa e pura”, disposta a matar e morrer pelo Führer.
O
principal elemento da propaganda política era o extenso calendário de
cerimônias e festividades institucionalizadas pelo nazismo. Os gestos e
símbolos – os uniformes, a saudação “Heil Hitler”, a bandeira nazista, os
emblemas da águia e a suástica – tinham excepcional importância.
Os
comícios, desfiles e paradas era meticulosamente preparados, teatralizando um
espetáculo para e com as massas. Bandeiras, luzes, corpos em sincronia –
verdadeiras ondas humanas – e símbolos reforçavam um sentimento de comunhão
quase religiosa entre a população e seu líder.
Além
do uso da propaganda e da persuasão tentavam-se eliminar a multiplicidade de
ideias por meio da violência física e psicológica, fazendo com que poucos, ao
menos abertamente, ousassem discordar do regime. Assim, a queima publica de
livros proibidos, a eliminação dos inimigos e o aparato policial, visível e
invisível, compunham uma atmosfera de ameaça constante para todos. O medo, a
inveja e a ambição levavam a população a se envolver ativamente no jogo de
sentinela da ordem nazista, fazendo com que a vigilância estivesse em todos os
lugares.
Dessa
maneira, o nazismo instalava-se no cotidiano das pessoas comuns. Os meios de
comunicação, associações, empresas, igrejas, escolas e universidades eram
integrados ao partido. Buscavam-se a abolição das barreiras entra a vida
publica e a privada, com a abertura de correspondência, investigações policiais
constantes e o incentivo á delação.
Essa
pretensão de conquistar e controlar toda a sociedade levou estudiosos do tema,
como a filosofa Hannah Arendt, a considerar a Alemanha nazista e também a União
Soviética, comandada por Josef Stalin, como regimes totalitários.
O
Estado totalitário não simbolizam apenas a ditadura. Além da eliminação do
espaço para as diferenças, ele visava a domesticação das vontades por meio da
obediência e a da autodisciplina, fazendo com que cada individuo se
identificasse com o regime.
Mesmo
os laços sociais fundamentais, como a família, as amizades e as camaradagens,
deviam se juntar ao partido na busca de uma lealdade total e incondicional.
Embora
a intenção fosse reformar um corpo social único e indivisível, estudos recentes
mostram que, mesmo que sutis e raras, houve resistências internas ao nazismo e
ao stalinismo.
Fonte Bibliográfica:
MORENO, Jean Carlos
& VIEIRA, Sandro. História, cultura e sociedade. Curitiba: Positivo, 2010
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